Num espaço onírico, uma pessoa percebe aos poucos que as dinâmicas do mundo real não estão em vigor.
Nascido de uma proposta de trabalho do último período do curso de Cinema da UFJF, "Bolha" é um curta metragem ficcional em 360 graus. De forma integrada com as disciplinas de Direção e Som, viabilizei toda a produção do filme, desde a concepção do roteiro até a finalização da obra, passando também pela atuação.


"Bolha" foi selecionado para o Festival Primeiro Plano em 2021, em Juiz de Fora, e para o FAC, em 2022, com exibição online.
Sobre o Som do Filme

No mundo onírico, a relação estabelecida entre o indivíduo e os sons não segue as regras do mundo real. Volume, tom, densidade, espacialidade, textura. Todas essas características assumem suas próprias possibilidades que estão ligadas apenas ao poder de criação da mente que sonha. 
O trabalho tenta construir uma paisagem sonora que se modifica à medida que o sonhador (e personagem) se localiza dentro do próprio sonho. A saída de um estado de neutralidade para outro de percepção do ato de sonhar, tenta ser impressa na trilha sonora.
A busca por distorções acústicas acaba somando-se às distorções visuais, auxiliando no causar da estranheza. No início, a captação quase bruta advinda dos microfones da câmera, com o mínimo de tratamento sonoro, parece sugerir uma narrativa naturalista, que não pretende extrapolar os truques para além das próprias deformações da imagem. 
Após o aparecimento do primeiro clone, com o território onírico e fantástico já estabelecido, tudo é possibilidade para o trabalho de som. Qualquer ruído colocado ali poderia ser justificado com a simples explicação do sonho. No entanto, preferi dar sinais mais sutis e espaçados para respeitar a progressão de desconforto e incômodo com o ambiente. 
O barulho de mar no relógio de pulso surgiu durante a própria atuação em um dos ensaios e acabou se convertendo em algo interessante dentro do filme. Um primeiro indicativo de que os sons ali já não funcionam como na realidade. Ao inserir os clones e tramar os desaparecimentos com glitches sonoros, trouxe do mundo virtual eletro-acústico os defeitos que ali se manifestam na mente do sonhador. A fala de um dos clones propositalmente incompreensível tenta explicitar a incapacidade do personagem central em se conectar e comunicar com os clones. O desespero latente no último terço do filme acaba vindo em grande medida dessas aparições e da incapacidade de entender qual a razão ou motivação daquilo. 
A partir daí, o som foi pensado para se tornar uma massa, uma soma de ruídos conhecidos e desconhecidos, proporcionais ao volume de pensamento naquele momento. A ambiência noturna de madrugada, com carros distantes e latidos abafados, é abruptamente cortada por estocadas na porta, contribuintes do caos que se instaura a partir dali. Sirene, vento, white noise, murmúrios de multidão. Tudo se junta a formar uma representação auditiva da saturação mental e dos pensamentos intrusivos que estão na mente de um personagem intrinsecamente contido dentro de outra mente. 
Após a síncope que leva o personagem ao chão, a imagem se concentra numa porção circular do centro da tela. O som do filme se acalma em conjunto. De forma a tentar indicar que toda aquela abundância de imagem e som vão estar contidas na esfera que se forma, os indícios de um plausível despertar começam a surgir e indicar a finalização daquele universo onírico. 
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